quarta-feira, 28 de abril de 2010

Bernardete, a feia.

Dessa vez a historia é de Bernardete, 29 anos, solteira. Também pudera. Dete, como assim era chamada pelas patroas, era a diarista mais feia que já havia passado pelo portão daquele edificio.

Chegou cedo, cheia de vontade de conhecer o apartamento onde ia trabalhar pela primeira vez.
Era a casa da nova patroa. Estava indicada pela Nalva, amiga do Biro lá do posto.

Dete já tinha quase todos os dias da semana preenchidos.
O que tinha de feia, tinha de boa limpadora.
O outro motivo para a agenda lotada era que as patroas de uma certa forma gostam de diaristas feias. Menor probabilidade de riscos no casamento.

O fato é que Bernardete, ao passar pela portaria, conheceu o amor. Deu de cara com Cícero, o filho do zelador. Foi amor à primeira vista. Mas só para Dete, porque Cícero deu de ombros. Abriu o portão com um movimento quase que automático.
Praticamente nem viu a moça.

Vai onde?
Apartamento 12 moço.
Momento ... Pode subir. A entrada é lá ó.

Naquele dia, a diarista nem viu o tempo passar. Lavou, passou, fez o jantar, cuidou do banheiro, lavou a louça. Mas tudo o que fez, fez com o pensamento em Cicero.

Ligou pra Nalva, louca pra contar que encontrou sua cara metade. Se Cicero ouvisse isso, poderia até processar a moça, de tão feia essa metade da cara usada na comparação.

Nalva não teve coragem de ser dura e nem realista com Dete. Disse que talvez o moço tivesse namorada, e que ela deveria esperar um pouco mais para se entregar à esse louco amor.

O fato é que Dete trabalhou no edificio por quase 3 anos.
E durante esse tempo Cicero não teve interesse nem pelo nome dela. Nem Cicero, nem ninguém da torcida do Corinthians.

De tanto tentar ser percebida pelo rapaz, ela ia toda semana na loterica. Era na verdade uma desculpa tonta só para poder passar pela portaria durante a tarde.

De tanto fazer jogos, no terceiro ano de trabalho, Dete simplesmente ganhou na Mega Sena! Pegou justo uma acumulada. Ô sorte. Alguma coisa de bom Deus tinha que dar a ela. O mundo andava muito injusto.

Largou o trabalho de diarista e correu para as clínicas de cirurgia plástica.

Seis meses depois, Cícero andava distraído pelo jardim do prédio quando viu a loira chegando. Cabelo comprido, liso, loiro. Cintura bem fina, uma costela a menos e pernas bem à mostra. Os seios, eram dignos de alguma mulher fruta. Fruta pesada e redonda, só se for.
Cicero parou tudo e foi abrir o portão para a moça.
Enquanto tirava os óculos escuros que escondiam os recem comprados olhos azuis, Dete respondeu:

_ Não Cícero, você já me conhecia. Só não tinha era reparado. E continuou: Eu, pelo contrário, reparei muito em você, mas só hoje é que dei conta de quanto faz falta um bom par de lentes de contato de grau. Agora que já comprei um, por favor, você pode entregar essas rosas no apartamento 12? É para agradecer Dona Vilma pelos anos de trabalho. E obrigada a você também. Se não fosse eu ter me apaixonado por você, não teria ido todos os dias na loterica só pra ficar passando pela portaria toda hora.

E saiu, batendo os mega saltos pelo chão, até entrar na BMW branca, com rodas cor de rosa, de onde se ouvia bem alto o som do ultimo cd de Amado Batista.

Dá-lhe Dete, a ex-feia!